Translate

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Clube da Carta

carta 2


                                                                                                  NOVEMBRO DE 2016

Bruna, minha querida.


Há algumas semanas me sentei para te escrever e comecei um esboço de uma carta que te contava como foi que morri. Mas parei para ler aqueles escritos e me dei conta de que eu ainda não morri completamente, então estou escrevendo de novo.

Eu ainda não morri, cada dia que passa morro um pouco mais. É uma sensação estranha, visto que estamos separados há mais de uma década. Sabe, cada dia alguma coisa nova me lembra dela. As musicas, os programas de Tv, os livros espalhados pela casa, uma conversa entre estranhos. Tudo me lembra dela e cada dia eu morro um pouco mais.



Ainda não tive o privilégio de renascer, mas também não me preocupo com isso. Ela foi um marco na minha vida e quero apreciar cada lembrança que ainda tiver dela. Quero poder morrer sempre que escutar Bye Bye Blackbird com a Peggy Lee cantando, porque a irritava não ser a Ella Fitzgerald no vocal. Quero morrer quando pegar uma estrada sem destino e encontrar um pousada perdida no meio do nada e ser presenteado com uma noite estrelada linda. Quero poder morrer em paz cada vez que me sentar de frente para o mar e lembrar dela saindo deslumbrante de dentro d´água.

Renascer é para os fortes, minha querida, e admiro muito essa sua capacidade. Mas quero que saiba que não sou de todo fraco por não ter renascido ainda. Eu sou forte por me deixar morrer, porque assim eu a revivo dentro de mim e sei que ela foi/é uma parte importante da minha vida.

Você já ouviu Here you come again, menina Bruna? É bem assim que me sinto quando penso nela. Ela sempre vai me matar e eu sempre vou morrer, de amor, por amor, pelo amor a ela.

Seja feliz no seu renascimento e se um dia eu conseguir essa dádiva, eu te conto como me senti.


L.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Critique ou elogie aqui